O lado oeste do Vietnã é cheio de enormes florestas e cavernas de todo o tipo. Uma boa parte está no Phong Nha-Ke Bang National Park, classificado como Patrimônio Mundial da Unesco desde 2011. O Parque Nacional de Phong Nha abriga a 2ª e a 3ª maiores cavernas do mundo. A região foi descoberta por exploradores estrangeiros recentemente, apesar de já serem conhecidas há muito mais tempo por moradores locais.
Demos muita sorte de descobrir sobre as cavernas pouco tempo antes de embarcar para o Vietnã. A expedição às principais cavernas é feita pela empresa Oxalis. Os grupos são limitados e é preciso fazer reservas antecipadamente.
Uma das entradas da caverna Hang En, no Parque Nacional Phong Nha.
A Oxalis opera em 6 diferentes cavernas dentro do parque, com expedições que variam de 1 a 4 dias. A principal e a mais demandante é a Son Doong Cave Expedition, com duração de 4 dias/ 3 noites. A Son Doong é a maior caverna do Vietnã e a segunda maior do mundo.
Por não haver disponibilidade para a data que poderíamos fazer o tour, escolhemos fazer a Hang En Adventure Cave Camp de 2 dias/ 1 noite. A Hang En é a segunda maior caverna do complexo, e a terceira maior do mundo! Essa expedição requer 2 dias de caminhada (ida e volta) pela floresta do Parque Nacional de Phong Nha para acampar dentro da caverna Hang En. Foi um trekking puxado mas uma das minhas melhores experiências em atividades outdoor na vida!
Como chegar no Phong Nha-Ke Bang National Park
Quem viaja a Phong Nha normalmente vai de ônibus ou trem. O trem vai até a estação de Dong Hoi, a cidade mais próxima do Parque, de onde é preciso pegar um ônibus ou contratar um veículo para chegar ao vilarejo de Phong Nha. O site da Oxalis indica as melhores opções de ônibus partindo de cada localidade. Vale a pena também entrar em contato com a pousada que escolher para ver se eles oferecem algum tipo de serviço de “pick-up”.
No nosso caso, estávamos saindo de Hue, então entramos em contato com o Mr. Shi (indicação da própria Oxalis), que fez a nossa reserva nos ônibus de ida e de volta.
Confesso que não me agradou muito o transporte na ida: ao invés de ônibus, o veículo era uma van, em que eles colocaram o máximo de pessoas sentadas possível. Todo mundo estava bem apertado, foi uma viagem de cerca de 8hs e bem desconfortável. A vantagem é que não tivemos que pegar nenhum outro transporte, a van nos pegou no nosso hotel em Hue e nos deixou na pousada em Phong Nha. O translado na volta foi em um sleep bus, um ônibus com beliches, em que o banco praticamente deita 100%. Com certeza bem mais confortável!
Hospedagem
O Parque Nacional de Phong Nha já se tornou um destino turístico relevante para a região. Existem várias opções de hotéis, albergues e pousadas no vilarejo. Nós escolhemos a Mountain House, que é uma homestay, uma espécie de pousada onde moram os donos.
Normalmente homestays são propriedades de famílias locais. No caso da Mountain House, a dona é a gentil e atenciosa Ms. Ai. A pousada não fica exatamente no vilarejo, e sim a alguns quilômetros dele, mas é uma excelente opção de lugar limpo e confortável para descansar. Além do fato de ser sempre bom saber que você está ajudando o povo local.
Um fato curioso: na nossa última noite na Mountain House, a proprietária Ms. Ai, estava celebrando seu casamento. Ela foi tão receptiva conosco que até nos convidou para a festa!
Sobre o Phong Nha – Ke Bang National Park
O Parque Nacional de Phong Nha tem uma área de cerca de 2.000km2, e composta por mais de 300 cavernas e grutas, rodeadas pela bela floresta de Ke-Bang. Para quem chega na região sem tours agendados, existem algumas opções de cavernas e passeios que podem ser feitos por conta própria. Apesar disso, eu acredito que a melhor forma de explorar a região é pegar algum passeio organizado, com guia. É mais seguro e a experiência dos guias vai te permitir conhecer os melhores lugares.
Algumas das expedições são realizadas somente pela Oxalis, que é uma empresa vietnamita-britânica muito bem conceituada, operando no Vietnã desde 2011. Os guias são todos locais e muito bem preparados. Para os tours de mais de 1 dia, a equipe deles inclui o pessoal que leva uma parte dos pertences, além do cozinheiro e assistentes quem preparam as refeições. É tudo muito bem organizado e cômodo.
Cerca de 95% dos funcionários da Oxalis são da região de Phong Nha, e seu trabalho tem ajudado muito no desenvolvimento da população local. O jornalista Michael Tatarski escreveu uma matéria muito interessante para o Asia Times falando sobre os impactos do crescimento do turismo do Parque Nacional Phong Nha na comunidade e no meio-ambiente. Clique aqui para ler a matéria.
Sobre a trilha para Hang En
Apesar de a Oxalis buscar sempre a segurança de todos no grupo, é responsabilidade de cada um julgar se está apto para fazer a trilha, seguir as diretrizes e tomar as devidas precauções.
O nível da trilha para a caverna Hang En é considerado moderado. A experiência pode mudar muito de acordo com as condições da trilha, com a temperatura, com o nível dos rios, entre outros fatores. Na nossa experiência, a maior parte do percurso foi fácil, sendo uma boa parte do trecho plana, com travessias de rio que chegavam até a cintura. Porém, os trechos que não eram planos (no início e no final da trilha) na minha avaliação foram bem difíceis.
Começamos o percurso descendo o morro com vegetação fechada em direção ao vale. A descida era íngreme e havia muita lama, tornando o trajeto bem escorregadio. Acho que foi em torno de 1h de descida bem tensa, depois começa a ficar mais fácil.
O trajeto até a caverna Hang En passa por várias travessias de rio. O nível da água varia de acordo com as chuvas.
No momento em que as travessias de rio começam, o trajeto já fica bem mais tranquilo. Ainda assim, algumas pessoas passam mal quando está muito calor. É importante ter sempre água para se hidratar. A Oxalis recomenda que todos usem roupas que cubram bem o corpo, não só por conta do sol, mas também por causa de plantas venenosas e de sanguessugas nos rios.
Depois de mais um trecho de caminhada, fizemos uma parada para almoço, em um vilarejo no meio do parque. A equipe da Oxalis monta um “buffet” com pães, frios, frutas, verduras, frango, sopa, bolachas, e cada um se serve à vontade.
Almoço tipo “lanche” no primeiro dia de trilha – bem completo e tudo organizado pela equipe da Oxalis
Após o almoço, tivemos a oportunidade de conhecer o vilarejo e o estilo de vida do povo que mora lá. Eles têm um estilo de vida bem simples, mas nosso guia informou que recebem uma certa ajuda do governo. Ele também nos contou que tiveram a oportunidade de sair de lá, mas preferem continuar afastados da cidade. Gostei muito de conhecer o vilarejo, especialmente a escola, nosso guia até nos ensinou algumas palavras em vietnamita!
Parte do vilarejo que existe dentro do Parque Nacional de Phong Nha.
Momento “sala de aula”!
Na parte da tarde retomamos a caminhada com mais travessias de rio. Em épocas de cheia, a água pode vir até os ombros. Entramos numa área bem mais aberta, andando no meio do vale, que foi onde pudemos melhor apreciar a paisagem. Passamos por algumas áreas descampadas, mas sempre com a floresta em volta, o visual é incrível.
No final da tarde, passamos em frente a uma das entradas da caverna, que é a mais ampla mas serve mais como entrada de luz para a parte interna, por ser “barrada” por várias pedras e árvores.
Continuamos andando por mais um pouco debaixo do sol até chegar à entrada “oficial”, que é bem menor:
Você já sente a diferença de temperatura logo na entrada da caverna Hang En. Não chegava a ser frio enquanto ainda era dia, mas batia bastante vento. Capacetes e lanternas à cabeça, vamos explorar a caverna! O guia nos leva a diferentes pontos, o trajeto inclui até descobertas arqueológicas de animais que viveram lá há milhares de anos.
Vista de cima da área do nosso acampamento! Em frente às tendas se forma uma deliciosa piscina natural
Com o final do trekking, chegamos às barracas e aproveitamos para tomar um banho delicioso na piscina natural que se forma dentro da caverna. À noite, nos reunimos com o grupo para um ótimo jantar preparado pela equipe da Oxalis.
No dia seguinte nosso guia acorda todo mundo para tomarmos um café e começarmos a caminhada de volta às 8h30 da manhã. O segundo dia de trekking incluiu passagem pela Cold Cave, uma caverna alagada com várias passagens estreitas.
A entrada na Cold Cave é opcional, todos os pertences ficam do lado de fora. A água era bem gelada, e em alguns momentos, cobre até o pescoço.
A passagem pela Cold Cave foi uma das melhores partes do trajeto de volta. O mais interessante é que, em pouco tempo dentro dela, você já se vê em um lugar alagado no completo breu a não ser pelas luzes das lanternas. E o visual interno da caverna faz você pensar que está dentro do filme Alien, o 8º Passageiro.
Após caminhada pelo vale e parada para o almoço, começamos as 2hs finais de subida para retornar ao ponto inicial da trilha. A subida é muito íngreme, principalmente no início. Nesses momentos bateu aquela sensação de “isso não é para mim”, “pra que fui inventar de fazer isso”, até o momento em que você chega, se sente vitorioso, e esquece de todo o esforço. O que realmente fica é a aventura e a lembrança das paisagens maravilhosas que você viu durante no Parque Nacional de Phong Nha.
O que levar para a trilha
A Oxalis fornece: 1 capacete com lanterna, 1 garrafa de água, 1 par de luvas, tendas (individuais ou por casal) com saco de dormir, colchonete e travesseiro. O tour inclui 2 refeições por dia. Qualquer coisa a mais é de responsabilidade de cada um levar.
Indispensável levar protetor solar, repelente de insetos, boné, calças compridas, tênis e meia. A roupa deve ser leve e de preferência que cubra bem o corpo. Eles vão pedir para você pôr a calça por dentro da meia para as travessias de rio. O tênis é melhor que não seja impermeável e seja de secagem rápida. Para quem não tem, a Oxalis fornece um calçado tipo ‘militar’, não parece ser tão confortável, mas “dá para o gasto”.
Fica a critério de cada um querer levar mais comida e água. Eu particularmente sempre acho bom ter um ‘extra’. Em relação à água, no acampamento e nas paradas para almoço, é possível reabastecer. Mesmo assim, acho que é bom ter uma garrafinha a mais para emergência.
Itens para serem usados somente dentro da caverna entre os trekkings podem ser levados pelos ‘porters’ (“carregadores”) e costumam incluir: toalha, chinelos, troca de roupa, e kit de higiene. O peso por pessoa dessa bagagem não pode ultrapassar 4kgs.
Máquinas fotográficas podem ser levadas mas é preferível que cada um leve a sua. A Oxalis não se responsabiliza por eventuais danos em aparelhos eletrônicos durante o transporte. Além disso, o que é levado pelos ‘porters’ não poderá ser acessado durante a trilha.
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Olá!!!! Primeiro, quero deixar os parabéns pela excelente publicação!!! Eu tenho uma duvida nesses tracks com pernoites? Como fica a parte da “digestão”?!?!?! Outra coisa, temos q levar papel higiênico por conta própria, ou está no “kit” deles??? Mto Obrigado pela atenção. Gde Abraço!!!
Olá Ale, tudo bem?
Muito obrigada, espero que o post seja de grande ajuda se estiver planejando a sua viagem.
A Oxalis tem uma estrutura muito bacana para essas expedições, mas tudo é pensado de forma a gerar intervenção mínima na natureza.
Quando chegamos na caverna Hang En, havia um “compost toilet”, que é um banheiro com um toalete (estilo ocidental) onde você faz suas necessidades em cima de um material orgânico (um composto à base de arroz) e usa esse mesmo composto para cobrir os dejetos (já que não há descarga). O papel higiênico é fornecido pela própria Oxalis, e depois você tem inclusive água e sabão à disposição para poder lavar as mãos.
Porém se você precisar de banheiro ao longo da trilha, aí realmente terá que usar o “matoalete”.
Fique à vontade para nos contatar em caso de mais dúvidas.
Abraços!