As reações das pessoas a quem falamos que fomos conhecer o Alasca variam de “Noooossa, deve ser lindo!” a “Alasca??? O que vocês foram fazer lá?”.
Para mim, os dois comentários refletem os motivos de querer ir para lá. Por ser um lugar tão isolado, apesar de tanta beleza estonteante, não é um popular destino turístico. Lá você não encontra aquelas filas de ônibus de excursão, aquele amontoado de gente tirando foto do mesmo lugar. Não, o Alasca é um lugar para curtir a natureza, com a serenidade que ela merece.
Mas para onde ir no Alasca?? Então, vamos lá… O Alasca é realmente muito, muito grande; não só é o maior estado americano como também é maior que o segundo, o terceiro e o quarto maiores juntos. Isso implica em uma diversidade de paisagens e climas. Para explicar melhor, vou dividir o estado em 5 regiões.
Clique aqui se quiser ir direto para o roteiro que nós fizemos.
Alasca: Um panorama geral por região
Nota: Divisão regional de acordo com o site oficial do governo do Alaska, imagem elaborada pelo dept. NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration) – Alaska/US.
Far North (Extremo Norte): É a região mais fria do Alasca. A maior parte dessa região fica no Círculo Polar Ártico. É um lugar para quem quer viver a experiência mais extrema do Alasca. Nesta região, o sol nem aparece durante a maior parte do inverno (imagina como é o dia sem a luz do sol??). Da mesma forma, no verão, ele nunca se põe. É uma região com lindas paisagens, e é onde vive o urso polar, mas é a região com menor acessibilidade. A Dalton Highway é a estrada que liga a cidade de Fairbanks até o extremo norte, em Prudhoe Bay, porém tem uma boa parte feita de cascalho, pouco tráfego de veículos e bem poucas estações de conveniência. Tem opções de ônibus saindo de Fairbanks que fazem esse trajeto em 2 dias. O extremo norte do Alasca é também o local onde a cultura nativa, Iñupiat, é mais rica, pois teve menos influência da cultura americana. A cidade de Barrow, também conhecida pelo seu nome em Iñupiat Utqiagvik, é a cidade mais ao norte dos Estados Unidos, sendo uma cidade que evoluiu de uma vila de esquimós que levava uma vida de subsistência no difícil clima do Ártico. Hoje existe lá o Centro de Patrimônio Iñupiat, um museu educativo sobre a história e as tradições Iñupiat. Para ver ursos polares, o melhor lugar é Kaktovik, uma pequena vila na costa de Barter Island, onde a atividades de subsistência ainda são essenciais para a comunidade. Barrow (Utqiagvik) e Kaktovik são acessíveis somente por avião.
Interior (Centro): A região central do Alasca é onde se encontra o Denali National Park e o Monte Denali, também conhecido como Monte McKinley. Com cerca de 5.500 m de altura, é o monte mais alto da América do Norte. Essa região abriga uma boa parte da vida selvagem do Alasca, incluindo ursos, alces, caribus e dall sheeps; e o Parque Denali é uma das áreas mais visitadas por turistas. A maior cidade é Fairbanks, que é chamada de ‘Golden Heart City’ (Cidade do Coração do Ouro) por ter seu desenvolvimento muito ligado à exploração do metal. Sendo a segunda cidade mais populosa do Alasca, é acessível por estradas, avião e trem, e é considerada um dos melhores lugares para se ver a Aurora Boreal. A menos de 100 km a leste de Fairbanks tem a estação de águas termais Chena Hot Springs, e a pouco mais de 20 km a sul está a cidade chamada Pólo Norte, que recebe anualmente centenas de milhares de cartas endereçadas ao Papai Noel.
SouthCentral (Centro-Sul): O Centro-Sul é a região mais visitada e acessível do Alasca, com clima mais ameno e oportunidades para muitas diferentes atividades, em terra ou no mar. O Centro-Sul abriga a maior cidade do Alasca, Anchorage, assim como também abriga pequenas e charmosas cidades próximas do mar e cercadas de natureza. Um lugar muito bom para uma ‘road trip’ com várias paradas. O visual varia de parques e florestas para rios repletos de salmão, fiordes, glaciares e praias; isso sem falar em toda a vida selvagem que abriga, no mar, em terra e no ar.
SouthEast (Sudeste): Também chamada de Inside Passage, por ser uma espécie de corredor estreito a oeste do Canadá, a região Sudeste é toda recortada pelo mar e pelas montanhas. Tanto que mesmo a capital do estado, Juneau, apesar de estar no continente, é inacessível por estrada ou trem. Já Sitka, a antiga capital do Alasca (quando o estado pertencia à Rússia), fica mesmo numa ilha. A região é repleta de montanhas, longos fiordes, glaciares e ilhas com florestas; e é habitat para muitas águias, focas, orcas, baleias, puffins, entre outros.
SouthWest (Sudoeste): No Sudoeste, encontra-se a Baía Bristol, um dos lugares de pesca mais abundantes do mundo. É de lá que vem a maior parte dos salmões comercializados nos Estados Unidos. No Katmai National Park e na Ilha Kodiak, chega a ter até 2500 ursos pardos para se alimentar dos salmões. Algumas agências licenciadas oferecem tours comerciais para avistamento daquela clássica cena do urso parado esperando o salmão pular na boca dele. A região só é acessível por pequenos barcos e aviões, então os passeios são superexclusivos e caríssimos. No Katmai National Park também se encontram vulcões ativos do Valley of 10,000 Smokes. A paisagem da região é de tirar o fôlego, assim como a das Ilhas Aleutas, um conjunto de cerca de 70 ilhas, a maior parte vulcânica. A região costuma atrair turismo relacionado à pesca, fotografia e vida selvagem.
Alasca: Roteiro Básico de Viagem
Então, voltando à pergunta, para qual região ir no Alasca? Minha resposta seria facilmente “para todas”, considerando que cada uma tem seus atrativos. Mas se o tempo é um limitador (como normalmente é), para uma primeira visita, acho que o roteirinho básico Anchorage-Denali-Seward-Juneau, que foi o que fizemos, é uma boa pedida! Vou explicar abaixo com mais detalhes o roteiro em cada cidade.
Nós optamos por fazer o trecho Anchorage-Denali-Seward de carro. Para nosso estilo de viagem, é a melhor opção, principalmente pela liberdade de poder parar onde quiser para avistar um animal ou tirar fotos da paisagem. As rotas de Anchorage à região do Denali e também a Seward são muito cênicas. Para aproveitar o percurso, deve-se sempre considerar um tempo muito maior que o tempo indicado pelo Google Maps. Para quem não dirige ou não gosta de dirigir, esses mesmos percursos podem ser feitos de ônibus ou até mesmo de trem pela Alaska Railroad, passando por belíssimas paisagens.
Clique nos links abaixo para ir direto para o roteiro de cada região:
Anchorage
Denali National Park
Seward
Juneau
Anchorage
Bem-vindo a Anchorage! Para muitos, essa é a porta de entrada do Alasca. Com voos frequentes a partir dos Estados Unidos e Canadá, é uma boa forma de começar a viagem.
Anchorage tem a cara de uma cidade tipicamente americana. É comum ver avenidas largas e grandes redes de varejo pela cidade. Mas não se deixe enganar pelas aparências. Em pouco tempo você percebe que essa não é mais uma cidade americana qualquer.
No dia de chegada, aproveitamos para conhecer um pouco a cidade e resolvemos jantar num restaurante que nos foi indicado pelos nossos hosts – ficamos hospedados em um BnB. O restaurante é o Simon & Seafort’s que vale a pena tanto para um jantar mais sofisticado como para um happy hour, e tem vista para o mar. E foi comendo um jantar delicioso que ficamos assistindo o pôr do sol – à meia-noite!
Pôr-do-sol à meia-noite em Anchorage, Alasca.
No segundo dia em Anchorage, nossa principal atividade foi explorar a Tony Knowles Coastal Trail, uma trilha asfaltada em um parque que começa no Downtown e vai costeando até o Kincaid Park. Para fazer o percurso, alugamos bikes na loja Downtown Bicycle Rental (pagamos USD 18 por bike c/ marchas), que fica próxima ao início do percurso. São 11 milhas (aprox. 18 km) por trecho, mas sem grande nível de dificuldade. No trajeto Downtown>Kincaid, a maior parte é subida leve, somente com uma subida mais íngreme (e interminável) bem no final. O trajeto de volta é quase todo descida.
Só a vista para o mar já faz valer a pena uma caminhada ou pedalada nessa trilha; mas, além disso, em alguns pontos da trilha, num dia claro, é perfeitamente possível ver o Monte Denali do parque. Dependendo da época do ano, também há avistamento de baleias. A trilha ainda passa do lado do Aeroporto Internacional de Anchorage, de onde dá para ver aviões decolando. Mas a maior surpresa para nós nesse dia foi outra: não havia dado 10 minutos pedalando quando um passante nos avisa que havia visto um black bear (urso negro) na trilha. No momento, pensamos em parar. Como a trilha estava bem movimentada, resolvemos seguir o caminho, mas mais devagar e com mais atenção. Mas esse mesmo aviso aconteceu mais algumas vezes, e também em outras partes da trilha. Felizmente, não nos deparamos com nenhum urso, mas foi bom para saber que eles podem aparecer por lá.
Vou fazer um parêntese aqui sobre a questão do urso. No Alasca, praticamente em todo lugar existe uma sinalização sobre a possibilidade de ocorrência de vida selvagem e instruções de como proceder para evitar encontros perigosos e até o que fazer no caso de eles acontecerem. É claro que não é tão comum a presença de ursos tão próximos da civilização. Os próprios ursos não procuram os humanos. A única coisa que eles procuram constantemente é comida. E isso quer dizer que a nossa comida, e também o nosso lixo, pode acabar atraindo-os para áreas mais próximas da cidade. A ocorrência de ursos fora do seu ambiente natural é consequência do manejo irresponsável de recursos dos seres humanos. E essa proximidade onde não deveria acontecer é perigosa tanto para o ser humano quanto para o urso.
Infelizmente, nosso tempo em Anchorage foi curto (para quem vai, recomendo 3 dias inteiros) e, por conta disso, não conseguimos fazer mais atividades. Porém, dois outros lugares nos arredores de Anchorage que acho que valem muito a pena são o Eagle River Nature Center (um parque com várias opções de passeios guiados e trilhas de nível fácil) e o Chugach State Park. No Chugach State Park tem uma trilha chamada Williwaw Lakes Trail, que é muito popular entre os residentes da cidade. A paisagem é simplesmente linda, passa por 9 lagos entre montanhas e florestas; porém, ocupa um dia todo, são aprox. 12 milhas de trilha de nível moderado (em torno de 19 km – tempo médio de 7 horas de trilha).
Denali
No dia seguinte, saímos cedo de Anchorage rumo ao Denali National Park. Uma dica para quem fizer esse mesmo trajeto é sair de Anchorage com o tanque cheio. Na região do Denali o combustível é bem mais caro, e no caminho tem um bom trecho sem postos para abastecimento.
A distância até o nosso hotel no Denali era de aprox. 360 km. A estrada é asfaltada e mantida em boas condições, mas, mesmo assim, deve-se considerar no mínimo um período inteiro para a viagem, para ter tempo para apreciar a paisagem e fotografar à vontade. Além disso, não é incomum ter animais invadindo a pista, então DESACELERE! Lembre-se, você está no Alasca, um lugar repleto de vida selvagem.
Os pontos de parada na estrada são vários, vou colocar aqui somente os principais (em ordem, no sentido Anchorage>Denali):
- Mirror Lake, em Chugiak (bem próximo a Anchorage) – é um espaço agradável onde os locais descansam e aproveitam o lago como se fosse uma praia. Ótimo lugar para um piquenique.
- Byers Lake (milha 146) – para chegar, tem que pegar uma estradinha curta. É um lugar gostoso e tem uma área para camping.
- Veteran’s Memorial Loop – logo depois da saída para o lago, tem esse memorial de guerra, que também é um lugar com uma linda vista para o Monte Denali.
- Hurricane Gulch Bridge(milha 172) – é a maior e mais alta ponte do Alasca, que passa por uma grande falha geológica, onde teve um terremoto devastador na década de 60. A visão do chão, que de repente despenca em um abismo de quase 100 m de altura com o Hurricane Creek (riacho) embaixo, é sensacional.
Hurricane Gulch Bridge, maior ponte do Alasca, no caminho de Anchorage para o Denali National Park.
Chegando na região do Denali, resolvemos estender até Healy, onde se encontra a réplica do ônibus conhecido como ‘Magic Bus’ utilizada para as gravações do filme ‘Into The Wild’ (em português, ‘Na Natureza Selvagem’). O filme conta a história real de Christopher McCandless, um jovem que resolveu largar tudo que tinha para viver um período no Alasca longe da civilização e dos apegos materiais. O ônibus verdadeiro de Chris continua no lugar original, que fica em uma trilha chamada Stampede Trail, próxima ao Denali, mas é uma trilha longa e de difícil acesso, que exige tempo e muito preparo. Já o ônibus escolhido por Sean Penn para as gravações do filme encontra-se na 49th State Brewing Company, uma cervejaria na cidade de Healy, e contém fotos e cartas originais de Christopher McCandless.
Ônibus (“Magic Bus”) utilizado nas filmagens do filme Na Natureza Selvagem (Into The Wild), de Sean Penn.
Nas 3 noites que passamos na região do Denali, optamos por ficar no Carlo Creek Lodge, uma estalagem simples, mas bem confortável, a cerca de 20min da entrada do Denali National Park.
A entrada para o Denali National Park é no valor de USD 10 por pessoa (acima de 15 anos – valor ref. a 2017), que permite ao visitante a entrada no parque por 7 dias. Por ser um parque nacional dos EUA, está incluído no passe ‘America The Beautiful‘, uma opção de passe anual para todos os parques nacionais do país para grupos de até 4 pessoas, que custa USD 80 (valor em 2017). Ou seja, se você estiver planejando conhecer outros parques americanos dentro de um ano, pode muito bem valer a pena. O tícket do ônibus para acesso dentro do parque é cobrado à parte.
Caribu no Denali National Park, Alasca.
Para conhecer o Parque, minha sugestão é de no mínimo 2 dias inteiros. Vou explicar logo abaixo como funciona:
- A estrada principal do parque tem 92 milhas (aprox. 150 km) de distância, porém só as 15 primeiras são abertas para veículos regulares, e somente na temporada de verão (20 de maio a meados de setembro). Nas estações de outono e primavera, a estrada pode estar fechada devido a condições climáticas.
- Nessas 15 primeiras milhas, tem várias opções de trilhas curtas, como a Horseshoe Lake Trail (5,1 km de trilha em loop) e a McKinley Station Trail (2,6 km o trecho); e uma mais longa e mais difícil, que é a Triple Lakes Trail (15,3 km por trecho). Para acessar o mapa completo das trilhas dessa parte, clique aqui. No Centro de VIsitantes do parque também tem bastante informação sobre as trilhas.
- A partir de certo ponto do parque, os ônibus de passeio são os únicos veículos motorizados que podem entrar. O passeio no ônibus normalmente propicia as melhores chances de avistamento de vida selvagem, pois entra em uma área do parque com menor fluxo de veículos e pessoas. Além disso, você fica mais alto e terá outras pessoas que também estão procurando pelos animais.
- São 2 tipos de ônibus: o Denali Tour Experience (tours guiados, com 3 temas diferentes) e o Shuttle Bus System (são os ônibus “comuns”, onde não há guia, em que você pode subir e descer em qualquer lugar). Nós decidimos utilizar o Shuttle Bus, pelo fato de ser mais barato e também pelo fator liberdade, no caso de optarmos por descer em algum lugar. Em qualquer um dos casos, é recomendável que você separe 1 dia inteiro para o passeio de ônibus.
- Em relação ao ônibus tipo Shuttle, funciona da seguinte forma: o trajeto é único, porém você compra o tícket de acordo com o ponto final de parada que deseja. São 5 opções de paradas, sendo que o trajeto mais curto tem duração prevista de 6 horas e meia (ida e volta), enquanto o mais longo tem 13h de duração o percurso todo. Você pode descer a qualquer momento, na ida ou na volta, porém, se descer na ida, só poderá reembarcar em outro ônibus com o destino igual ou mais próximo que o do seu ticket. Já se descer no percurso de volta, poderá reembarcar em qualquer Shuttle Bus que tenha espaço disponível.
- É importante observar se o parque está cheio e se os ônibus costumam encher nesse dia, pois a partir do momento em que você decide sair do ônibus, você “se vira” para encontrar outro para continuar. O parque não garante a sua entrada em outro ônibus no mesmo dia. A quantidade de ônibus é limitada. Como fomos em julho, que é o mês com mais movimento, vi poucas pessoas cedendo seu lugar no ônibus e se arriscando a pegar o próximo.
- Os tíckets do ônibus começam a ser vendidos com 2 dias de antecedência. O melhor é comprar o quanto antes para conseguir os melhores horários de saída, principalmente se sua intenção é percorrer os trajetos mais longos ou fazer trilhas entre as paradas.
No dia em que chegamos no Denali, já fomos para o Centro de Visitantes garantir os tíckets para o ônibus. Decidimos comprar para o ônibus até o Eilson Visitor Center, que são 8h de passeio (pagamos USD 34 por pessoa). Os melhores horários de saída só estavam disponíveis para daqui a 2 dias, então decidimos, no dia seguinte, fazer as trilhas mais curtas e deixar o passeio de ônibus por último. Fizemos a Horseshoe Lake e a McKinley Station e também optamos por uma terceira que fica fora da entrada do parque, que é a Savage River Loop Trail (acessível por carro ou ônibus do parque). Nessas trilhas, vimos uma quantidade grande de animais pequenos, como o snowshoe hare (uma espécie de coelho) e o artic ground squirrel (esquilo do ártico). Na Horseshoe Lake, conseguimos ver um alce no início da trilha e, no lago, vimos alguns castores trabalhando.
Mamãe alce com 2 filhotes no Denali National Park. Momentos ‘vida selvagem’ no Alasca.
Grizzly Bear e filhotes (Urso Pardo) no Denali National Park, Alasca.
No último dia de Denali, chegamos ao Centro de Visitantes no horário programado para pegar o ônibus e embarcamos para nosso tour pelo parque. Não há quase trilhas demarcadas no interior do parque. Qualquer um que se aventure a andarilhar pelo parque fará seu próprio caminho, e deve estar muito bem preparado para qualquer tipo de situação. Isso inclui roupas apropriadas para repentinas mudanças climáticas, água, comida, bússola. E não se esqueça de ler todas as orientações de segurança referentes à vida selvagem e também de trazer um spray para urso, caso resolva fazer uma trilha por conta própria. Nunca faça uma trilha sozinho! Para caminhar pelo interior do parque, o mais apropriado é andar em grupos de no mínimo 4 pessoas.
A Cris e o Renato do Blog Pegadas na Estrada fizeram um post bem completo sobre cuidados a serem tomados ao se aventurar em uma trilha com possível aparecimento de ursos. Você pode conferir o post deles clicando aqui.
Nós acabamos por decidir não trocar de ônibus, já que, tanto em termos de paisagem como de vida selvagem, o roteiro que o shuttle faz é mais que suficiente. Existem algumas paradas pré-programadas para as pessoas usarem o banheiro ou tirarem fotos e, toda vez que alguém avista algum animal, o ônibus pára para ficarmos observando. É importante trazer uma câmera com um bom zoom, muitos dos animais estarão à distância.
Seward
Paisagem de Montanhas Nevadas na Seward Highway, no Alasca. Mesmo com o tempo fechado, a estrada é cênica.
No nosso 6º dia no Alasca, pegamos novamente a estrada – dessa vez, com destino a Seward, uma cidade portuária na Kenai Peninsula, a sul de Anchorage. Aqui temos mais uma rota cênica, com vários pontos de parada, e grandes chances de ver vida selvagem no caminho. Os principais pontos de parada são:
- Potter Marsh Boardwalk – um rápido circuito em um tablado, destinado ao avistamento de vida selvagem em uma área alagada. Muito comum ver diversos tipos de pássaro, incluindo a águia-de-cabeça-branca (famosa bald eagle, símbolo da NSA) e diferentes espécies de salmão. No verão e no outono, os salmões voltam do mar para essa área alagada para fertilizar os ovos. Com sorte, pode-se chegar a ver até alces e ursos.
Águia de cabeça branca – “Bald eagle”
- Beluga Point – é um ponto de parada com uma linda vista para o Turnagain Arm, onde em julho e agosto não é raro ver belugas nadando atrás dos cardumes de salmão. Nós não tivemos essa sorte – no entanto, ao pararmos, notamos um bando de mountain goats lá no alto da montanha atrás de nós, que nem teríamos visto se tivéssemos apenas passado reto. Nesse lugar, é também possível presenciar a ocorrência de um fenômeno muito interessante, que é conhecido como bore tide, uma mudança brusca de maré em uma baía ou canal estreito. A bore tide acontece após uma maré extremamente baixa em consequência de lua cheia ou nova, e a que acontece nesse lugar pode chegar a até 3 m de altura.
Mountain Goats no alto da montanha atrás do Beluga Point, na Seward Highway, Alasca
- Bird Creek – é um riacho entre as montanhas onde, no verão, é permitida a pesca esportiva. A água do riacho tem aquela coloração azul de água de degelo, e a paisagem com as montanhas no fundo é muito bonita.
Pesca esportiva no Bird Creek. Há regras estabelecidas pelo governo para a prática dessa atividade.
- Alasca Wildlife Conservation Center (AWCC)– é uma organização sem fins lucrativos, dedicada à proteção de animais órfãos ou seriamente feridos, que não têm condições de sobreviver por conta própria. Essa organização faz um trabalho muito bacana no sentido de oferecer um lar para esses animais e reabilitá-los para que um dia possam voltar à natureza. Alguns dos animais que vivem hoje nesse local são bisões, ursos, alces, uapitis, boi-almiscarados, linces e caribus. O AWCC cobra uma taxa de USD 15 (valor ref. a 2017) por adulto para visitação, que é destinada à manutenção do espaço e ao resgate dos animais.
- Summit Lake e Lower Summit Lake – Dois lagos belíssimos no lado esquerdo da rodovia no sentido Anchorage> Seward.
Black Bear (Urso Negro) avistado de um ponto da Seward Highway, Alasca.
TurnAgain Arm, na Seward Highway, próximo ao Beluga Point – Alasca
A cidade de Seward tem um charme de cidade portuária, e a impressão que tive é que muita gente vem de Anchorage para passar o final de semana. Lá ficamos hospedados no Hotel Seward, que foi o 1º hotel da cidade, e sofreu com um grande incêndio em 1941. É uma boa opção de hotel aconchegante e muito bem localizado.
Uma cena que não me esqueço de Seward foi, nesse mesmo dia, às quase 23h, quando estava começando a escurecer. Depois do jantar, resolvemos dar uma caminhada na orla perto do hotel, despretensiosamente. Foi quando observamos que alguma coisa na água estava se mexendo, até percebermos que era uma lontrinha, nadando e relaxando. Apareceu só para a gente, sem ninguém mais ver. São esses momentos, totalmente inesperados, que marcam uma viagem para o Alasca.
Duas lontrinhas relaxando no Baía da Ressurreição, em Seward, Alasca.
Em Seward, nos programamos para fazer dois passeios. O primeiro deles, foi um cruzeiro pelo Kenai Fiords, que contratamos com o Major Marine Tours.
O passeio foi o Wildlife Cruise de 5h, que vai até o Bear Glacier, e apesar de ser carinho (pagamos USD 88 por pessoa), achei que valeu muito a pena. O serviço da empresa é excelente, a paisagem dos fiordes é maravilhosa e a vida selvagem, apaixonante. Nesse passeio, conseguimos ver a linda baleia jubarte, colônias de lobos marinhos,dall sheeps nas montanhas, várias e várias lontras marinhas e diferentes espécies de aves, incluindo os puffins, que são aqueles pássaros bem gordinhos com o bico coloridinho (normalmente, só são encontrados em regiões mais frias). Segue abaixo algumas fotos desse tour:
Paisagem do passeio Wildlife Cruise (cruzeiro no Kenai Fjords) em Seward, Alasca
Puffins!!!!!!!
Leões Marinhos (Sea Lions) na Baía da Ressurreição (Resurrection Bay), Kenai Fjords, Seward.
Mountain Goat, um dos animais mais difíceis de encontrar, nas montanhas do Kenai Fjords. Lindíssimo!
Bear Glacier, ponto final do tour no Wildlife Cruise em Seward, Alasca
O segundo passeio foi a trilha para ver o Exit Glacier, um dos maiores glaciares na região de Seward. São 3 opções de trilha para o glaciar:
- Harding Icefield – trilha de dia inteiro, de nível moderado-difícil. São aprox. 13 km de trilha em ‘loop’ com bastante inclinação, mas que, no final, tem a espetacular vista de cima do glaciar. Requer planejamento e preparo físico. Para saber mais, clique aqui
- Marmot Meadows – começa da Harding Icefield, porém vai somente até um ponto intermediário. São somente 4,5 km, porém a subida é íngreme. Dá para fazer com guia.
- Edge of the Glacier – foi essa que fizemos, é uma trilha curta e de pouca elevação. Dá para uma boa vista para o glaciar. Sem dificuldades, exceto pelas grandes quantidade de moscas na trilha.
No mundo todo os glaciares estão encolhendo de tamanho. No Ártico isso parece estar acontecendo ainda mais rápido. A placa mostra onde o glaciar chegava em 2010.
Visão do Exit Glacier mais de longe, de onde dá para ter uma idéia melhor do tamanho dele.
Juneau
Saindo de Seward, voltamos para Anchorage de carro para pegar um voo para Juneau. Depois de ter visto tanta coisa linda no Alasca, não sabia o que esperar de Juneau. Mas o queixo já começou a cair da janela do avião.
Juneau é a capital do Alasca. Na verdade, é uma capital que não parece uma capital. Uma cidadezinha pequena, entre as montanhas, que não é acessível por estradas, famosa pela gastronomia e cheia de lojas e restaurantes. Com clima frio e úmido, por estar entre as montanhas, tem temperaturas mais baixas que Anchorage e a Kenai Peninsula, e chove mais de 200 dias por ano.
Deixamos para reservar nosso passeio de barco pelo Tracy Arm Fjord quase na véspera, e quase desistimos por conta do tempo. Essa eu devo aos colaboradores do TripAdvisor, que repetidamente escreviam para não deixar de fazer mesmo com o tempo ruim. Devo admitir que resolvemos fazer o passeio meio contrariados, porque, além de chuvoso, o céu estava com muita neblina. O passeio foi USD 160 (sim, os preços no Alasca são altos mesmo) por pessoa com a Adventure Bound Alasca e dura o dia inteiro, mas digo, sem sombra de dúvida: é imperdível.
O barco é bem apertadinho, e você deve ir bem preparado para o frio e para a umidade. É permitido levar sua própria comida, apesar de que eu não achei necessário – os lanches servidos eram gostosos e a um preço superjusto. Mas não esqueça, de forma alguma, sua máquina fotográfica – traga duas se puder! As paisagens por dentro dos fiordes são de uma beleza incrível, passando por ilhas, florestas, cachoeiras, glaciares e icebergs de cores impressionantes. No caminho, vimos muitos pássaros, um urso negro, focas e, no final do passeio, bem pertinho, vimos duas orcas!!!! Foi um passeio inesquecível! As fotos abaixo falam por si próprias.
Havíamos separado o segundo dia para fazer a trilha para o Mendenhall Glacier, porém, infelizmente, para a atividade de Ice Trekking (caminhada no gelo) já não havia mais vagas com as empresas que operam esse tour. O que sabemos é que é uma opção de atividade demandante (deve-se separar um dia todo e ter bom condicionamento físico); com um custo considerável (em torno de USD 229 por pessoa); mas também é uma experiência muito diferenciada. Além de caminhar em cima de um glaciar, você terá chances de conhecer formações de cavernas de gelo (sujeito à descoberta dessas formações com segurança).
As duas empresas que encontramos que trabalham com essa atividade são: Juneau Shore Tours e Above & Beyond. Nota: caminhadas no gelo requerem equipamentos e cuidados especiais – não são passeios para serem feitos por conta própria.
Como não foi possível fazer o passeio acima, que explora a parte oeste do glaciar Mendenhall, decidimos explorar a parte leste do glaciar, que é a área mais acessível e tem um Centro de Visitantes. É possível chegar à área do parque de carro ou de ônibus. Por ônibus comum, a tarifa era (em 2017) USD 2 o trecho (precisa ter o valor trocado), e tem algumas opções de linhas – clique aqui para ver os detalhes.
Os ônibus não seguem até a entrada do parque, então verifique o ponto mais próximo, mas você deve precisar andar cerca de 1-2 km. O valor de entrada no parque era de USD 5 para até 2 adultos, mas se você tiver o passe anual de parques americano (‘America The Beautiful’), basta somente apresentar o cartão. O parque tem algumas opções de trilhas curtas e sem dificuldade, mas se você tiver tempo, dá para fazer todas. Uma atividade muito interessante também é fazer o passeio de caiaque que chega até o glaciar.
Mendenhall Glacier, Juneau, Alasca
Algumas Curiosidades do Alasca
- O Alasca é o 49º estado americano, e foi comprado da Rússia em 1867 por pouco mais que 7 milhões de dólares;
- O tamanho do Alasca representa 1/5 de todo o território americano;
- A capital do Alasca, Juneau, é a única capital americana no continente que só é acessível por barco ou avião;
- Você pode ver a Rússia daqui! As ilhas Diomedes, que ficam bem no meio do Estreito de Bering, pertencem uma à Rússia, outra aos Estados Unidos, e com uma distância aproximada de somente 4 km uma da outra. Mas o melhor de tudo: entre elas passa a linha internacional da data; ou seja, tem quase 24h de diferença entre uma e outra. Uma pessoa que estiver na ilha de Big Diomede (Rússia) num domingo, se cruzar o mar até a ilha de Little Diomede (EUA), chegará quase no mesmo horário do sábado.
Pra levar pra casa
Se você for um pouquinho como eu, vai se apaixonar pelo Alasca logo de cara! Para continuar se envolvendo com esse lugar incrível, mesmo de longe, segue duas recomendações de lazer que eu adoro:
- Filme ‘Into The Wild‘ – esse é dos poucos filmes que já assisti mais de 15 vezes e assisto de novo toda vez que passa. O filme conta a emocionante história (real) do jovem Christopher McCandless, que, cansado dos padrões e pressões da sociedade que vivia, largou tudo que tinha para se distanciar da civilização e buscar uma nova inspiração na natureza. Você pode ver o trailer aqui.
- Game Never Alone – jogo disponível para plataformas PS e Xbox criado pelo C.I.T.C. (Cook Inlet Tribal Council), uma organização sem fins lucrativos que apoia e procura manter vivas as tradições dos povos indígenas do Alasca. O jogo foi inspirado no livro de Robert Nasruk Clevelend, ‘Stories of the Black People’ (que está disponível em algumas bibliotecas nos EUA, mas muito difícil de encontrar para compra), e fala muito das tradições e histórias que eram passadas de geração para geração por esses povos. O jogo é muito bem feito e tem o intuito de preservar essa enorme herança cultural que hoje está cada vez mais escassa. O jornal americano The New Yorker fez uma reportagem bacana sobre o jogo – para ver, clique aqui.
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